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Ana E O Seu Livro Maldito



Quem falou que a vida de escritor é fácil? Às vezes nos deparamos com situações inusitadas e um tanto desafiadoras. A vida de Ana começou a se deparar com essas situações. Vou contar um pouco sobre isso.
Ana é uma jovem escritora, de 21 anos. Em toda sua vida, escreveu muitas poesias, alguns contos e aquilo que julgava ser a sua obra que a alavancaria no mercado de livros nacional, e talvez até mundial.
Oito meses atrás, ela teve um sonho. Desse sonho, nasceu um livro que seria a razão de todos os seus problemas. Após acordar numa noite de frio, pegou um manuscrito antigo, da época de escola. Era um pequeno conto que falava sobre o suicídio de um jovem, após perder o amor de sua amada.
Desse conto, começou a criar a história de amor mais perfeita que ela poderia imaginar. Sonhou com todos os encontros dos personagens, todas as discussões, e até sonhou com o final do livro. Esse foi seu maior defeito: ter sonhado com o final!
Enquanto os personagens estavam vivos apenas em sua cabeça, ela levava uma vida normal, como a de todo mundo de sua idade. Ia a festas, saía com os amigos, namorava, estudava e estagiava numa empresa. Quando chegava a noite, ia para seu computador pessoal, e começava a se dedicar aos seus versos, poemas, estórias, contos...
Numa bela noite, oito meses atrás, resolveu começar a escrever o seu conto, de acordo com o que havia sonhado. Nos primeiros capítulos, tudo ia bem. Ela estava bastante empolgada e feliz com as críticas que recebia de seus amigos, e de alguns professores de língua portuguesa da sua escola.
Na sua estória, ela falava sobre o dono de uma gráfica que, numa noite de porre, conhece (de vista) aquela que seria o amor de sua vida. A partir desta premissa, ele começa a persegui-la e a criar situações para que eles sempre estivessem juntos. Tudo começa a mudar, quando Ana, movida pelo complexo de não querer que sua estória se parecesse com qualquer obra de Shakespeare, adiciona uma ex-namorada do dono da gráfica.
Essa ex-namorada é quem desencadeia na própria Ana, algo além da compreensão humana: ela começa a sonhar com seus dois personagens principais. Não era qualquer sonho. Eles vinham até ela, com os pulsos e as narinas sangrando, chorando sangue e implorando para que ela não os separasse. Ana, desde o início, teve a intenção de matar a menina com quem sonhara, e dera tamanha riqueza de detalhes.
Ela começou a duvidar da sua própria sanidade. Estaria a pobre Ana ficando louca? Resolveu deixar para lá esse sonho, e voltar a escrever seu romance. Mas os sonhos persistiam em te atormentar durante a noite. Ana agora começava a visitar psicólogos e psiquiatras para saber o que acontecia consigo mesma.
As coisas começaram a ficar cada vez mais esquisitas, quando Ana começou a os ver mesmo estando acordada. Ela os via na escola, no trabalho, nas festas, em casa...
Por que os personagens não queriam aquele final? Por que a Ana teria que ceder a vontade deles? Desde o início eles eram apenas fruto de sua imaginação. Teve que começar a tomar remédios enquanto concluía algumas linhas do último capítulo que escreveu.
Ela estava ficando maluca e não queria parar de escrever. Ela os via sempre. Estavam a visitando como fantasmas que nos servem apenas para atormentar-nos. Em uma dessas aparições, ela resolveu conversar com eles.
Perguntou, novamente, o que eles queriam para deixá-la em paz. Eles disseram que apenas parasse de escrever, e os deixasse viver juntos na imaginação dela. Ana passou horas tentando convencer aqueles fantasmas no seu quarto de que ela era escritora, e aquele era o final da estória que ela havia sonhado para eles.
Eles ficavam com raiva, e derrubavam as canetas e cadernos de Ana. Mas ela continuava inflexível. Então, eles disseram que iriam atormentá-la até ela desistir, ou se matar.
Passei alguns meses sem ver a Ana, até que chega a minha casa a notícia de que ela havia cometido suicídio, e que havia deixado um bilhete para mim. Nele, ela dizia o seguinte:

“Não pude vencê-los. Não fui forte o suficiente. Eles tomaram conta de meus pensamentos e tive de me entregar. Deixo para você, esse bilhete e o HD do meu computador. Nele há apenas o livro que comecei. Quero que você termine do jeito que lhe for plausível. Te peço somente uma coisa: os separe de alguma forma no final do livro. Desculpa por não ter sido forte.

Boa sorte,

Ana.”

Após ler esse bilhete, resolvi pegar o HD da Ana para dar continuidade a sua obra. Li a estória toda e me identifiquei com o final escolhido pela Ana. Esse também foi meu erro.
Agora, me encontro na mesma situação que a Ana se encontrava: tenho dois personagens me atormentando para onde quer que eu olhe. Resolvi contar essa história, antes que eu tomasse o mesmo destino da Ana.
Agora, com esse copo de veneno que acabo de beber, posso ver a expressão de felicidade nos olhos dos dois. Mas deixo o mesmo legado da Ana, quero que continue a estória que se encontra no mesmo HD que a Ana me deixou, e faço o mesmo pedido para você que continuará essa estória: não os deixe junt...

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